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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Primeiro Concílio de Niceia


O Primeiro Concílio de Niceia foi um concílio de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, Turquia), pelo imperador romano Constantino I em 325 d.C.. O concílio foi a primeira tentativa de obter um consenso da igreja através de uma assembleia representando toda a cristandade.
O seu principal feito foi o estabelecimento da questão cristológica entre Jesus e Deus, o Pai; a construção da primeira parte do Credo Niceno; a fixação da data da Páscoa; e a promulgação da lei canônica.

Localização e participantes
Niceia (hoje İznik), é uma cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia). No verão de 325, os bispos de todas as províncias foram chamados ao primeiro concílio em Niceia: um lugar facilmente acessível à maioria dos bispos, especialmente aos da Ásia, Síria, Palestina, Egito, Grécia, Trácia e Egrisi (Geórgia ocidental). O número dos membros não pode exatamente ser indicado;Atanásio contou 318, Eusébio somente 250. Foram oferecidas aos bispos as comodidades do sistema de transporte imperial 
- livre transporte e alojamento de e para o local da conferência 
- para encorajar a maior audiência possível. Constantino abriu formalmente a sessão.
A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente no Oriente. No Ocidente, era ainda minoritária, especialmente entre os pagãos, vilas rústicas. Daí o nome de pagãos para os gentios. Uma exceção era a região de Cartago ouTúnis. Portanto, os bispos orientais estavam em maioria; na primeira linha de influência hierárquica estavam três arcebispos: Alexandre de Alexandria,Eustátio de Antioquia, e Macário de Jerusalém, bem como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, Bispo de Pitiunt (Bichvinta, reino de Egrisi).O ocidente enviou não
mais de cinco representantes na proporção relativa das províncias: Marcus de Calábria de Itália, Ceciliano de Cartago de África, Ósio de Córdoba (Hispânia), Nicasius de Dijon, na França, e Domnus de Stridon da província do Danúbio. Estes dignitários eclesiásticos naturalmente não viajaram sozinhos, mas cada qual com sua comitiva, de modo que Eusébio refere um grupo numeroso de padres acompanhantes, diáconos e acólitos.
Entre os presentes encontrava-se Atanásio, um diácono novo e companheiro do bispo Alexandre de Alexandria, que se distinguiu como o "lutador mais vigoroso contra os arianos" e similarmente o patriarca Alexandre de Constantinopla, um presbítero, como o representante de seu bispo, mais velho.
O papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao concílio, que aconteceu no Oriente, à grande distância de Roma. Assim os papas não participavam dos primeiros Concílios e enviavam representantes seus. Entretanto, importante ressaltar que as sedes patriarcais sempre eram consultadas na resolução das grandes questões. Silvestre já fora informado da condenação de Ário ocorrida no Sínodo de Alexandria (320 a 321) e para o Concílio de Niceia enviou dois representantes Vito e Vicente (presbíteros romanos).
Segundo Atanásio, contemporâneo dos eventos (Apol. de fuga sua, c. 5), quem presidiu o concílio foi o Ósio de Córdoba. Também afirmam-no implicitamente os próprios arianos escrevendo que ele "publicara o sínodo de Niceia" (Ap. Athânas, Hist. arian. c. 42).
Outra fonte da influência, apesar do não comparecimento do Bispo de Roma, é que as assinaturas dos três clérigos - Osio, Vito e Vicente - estão sempre em primeiro lugar, bem como a citação de seus nomes pelos historiadores do Concílio, o que seria estranho, dado que o concílio se deu no Oriente, e os três clérigos eram ocidentais - o primeiro um bispo espanhol e os outros dois sacerdotes romanos. Só o fato de serem representantes do Papa explicaria tal comportamento.

As questões doutrinárias
Este concílio deliberou sobre as grandes controvérsias doutrinais do Cristianismo nos séculos IV e V. Foi efetuada uma união entre o extraordinário eclesiástico dos conselhos e o Estado, que concedeu às deliberações deste corpo o poder imperial. Sínodos anteriores tinham-se dado por satisfeitos com a proteção de doutrinas heréticas. Porém o concílio de Niceia foi caracterizado pela etapa adicional de uma posição mais ofensiva, com artigos minuciosamente elaborados sobre a fé. Este concílio teve uma importância especial também porque as perseguições aos cristãos tinham recentemente terminado, com o Édito de Constantino.
A questão ariana representava um grande obstáculo à realização da ideia de Constantino de um império universal, que deveria ser alcançado com a ajuda da uniformidade da adoração divina.
Os pontos discutidos no sínodo eram:
A questão ariana
A celebração da Páscoa
O cisma de Melécio de Licópolis
O batismo de heréticos
O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio.
Embora algumas obras afirmem que no Concílio de Niceia discutiu-se quais evangelhos fariam parte da Bíblia, não há menção de que esse assunto estivesse em pauta, nem nas informações dos historiadores do concílio, nem nas atas do concílio que chegaram a nós em três fragmentos: o Símbolo dos apóstolos, os cânones, e o decreto senoidal. O Cânone Muratori, do ano 170, portanto cerca de 150 anos anterior ao concílio, já mencionava os evangelhos que fariam parte da Bíblia. Outros escritores cristãos anteriores ao concílio, como Justino Mártir,Ireneu de Lyon, Papias de Hierápolis, também já abordavam a questão dos evangelhos que fariam parte da Bíblia.
É um fato reconhecido que o anti-judaísmo, ou o anti-semitismo cristão, ganhou um novo impulso com a tomada do controle do Império Romano, sendo o concílio de Niceia um marco neste sentido. Os posteriores concílios da Igreja manteriam esta linha. O Concílio de Antioquia (341) proibiu aos cristãos a celebração da Páscoa com os judeus. O Concílio de Laodiceia proibiu os cristãos de observar o Shabbat e de receber prendas de judeus ou mesmo de comer pão ázimo nos festejos judaicos.

Historiadores do Concílio de Niceia
Uma boa fonte para o estudo deste período histórico é nos apresentada hoje sob a forma da obra de Edward Gibbon, um historiador representativo do iluminismo inglês do século XVIII, ainda hoje lida e traduzida para várias línguas: A história do declínio e queda do Império Romano.
Há diversas obras a respeito do Concílio de Niceia, mas de fato os historiadores que gozam de mais credibilidade e são a fonte desse período histórico para os demais autores são os próprios contemporâneos do evento: Eusébio de Cesareia, Sócrates de Constantinopla, Sozomeno, Teodoreto e Rufino, junto com algumas informações conservadas por Atanásio e uma história do concílio escrita em grego no século V por Gelásio de Cícico.

O caráter, a sociedade, e os problemas
A cristandade do século II não concordava sobre a data de celebração da Páscoa da ressurreição. As igrejas da Ásia Menor, entre elas a importante igreja de Éfeso, celebravam-na, juntamente com os judeus, no 14º dia da primeira lua da primavera (o 14º Nisan, segundo o calendário judaico), sem levar em consideração o dia da semana. Já as igrejas de Roma e de Alexandria, juntamente com muitas outras igrejas tanto ocidentais quanto orientais, celebravam-na no domingo subsequente ao 14º Nisan. Com vistas à fixação de uma data comum, em 154 ou 155, o bispo Policarpo de Esmirna, entrou em contato com o papa Aniceto, mas nenhuma unificação foi conseguida e o assunto permaneceu em aberto.
Foi no concílio de Niceia que se decidiu então resolver a questão estabelecendo que a Páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo seguinte ao plenilúnio após o equinócio da primavera. Apesar de todo esse esforço, as diferenças de calendário entre Ocidente e Oriente fizeram com que esta vontade de festejar a Páscoa em toda a parte no mesmo dia continuasse sendo um belo sonho, e isso até os dias de hoje.
Além desse problema menor, outra questão mais séria incomodava a cristandade católica: como conciliar a divindade de Jesus Cristo com o dogma de fé num único Deus?
Na época, a inteligência dos cristãos ainda estava à procura de uma fórmula satisfatória para a questão, embora já houvesse a consciência da imutabilidade de Deus e da existência divina do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Nesse quadro, um presbítero de nome Ário passa a defender em Alexandria a ideia de que Jesus é uma "criatura do Pai", não sendo, portanto, eterno. Em suas pregações, Ário por várias vezes insistia em afirmar em tom provocativo que "houve um tempo em que o Filho não existia". Dizia que Cristo teria sido apenas um instrumento de Deus mas sem natureza divina. A esse ensinamento de Ário aderiram outros bispos e presbíteros. Sobretudo, o bispo Eusébio de Cesareia, conhecido escritor da igreja, que se colocou do lado de Ário.
Por outro lado, a doutrina de Ário, ou arianismo, foi prontamente repudiada pelo restante dos cristãos, que viam nela uma negação do dogma da Encarnação. O repúdio mais radical talvez Ário tenha encontrado no bispo Alexandre de Alexandria e no diácono Atanásio, que defendiam enfaticamente a divindade de Cristo. Um sínodo foi convocado e a doutrina do Ário foi excluída da igreja em 318 d.C.. Mas o número de seus adeptos já era tão grande que a doutrina não pode ser mais silenciada. A situação se agravava cada vez mais e, desejoso de resolver de vez a questão, o imperador Constantino, que recentemente, no ano de 324 d.C., havia se tornado o imperador também do oriente convoca um concílio ecumênico.
Dado este importante, pois apesar de Constantino agora ser o imperador também do oriente mostra a independência que os bispos orientais (a maioria no concílio) tinham do seu recente imperador.

Os procedimentos
O Concílio de Niceia.
O concílio foi aberto formalmente a 20 de maio, na estrutura central do palácio imperial, ocupando-se com discussões preparatórias na questão ariana, em que Ário, com alguns seguidores, em especial Eusébio de Nicomédia,Teógnis de Niceia, e Máris de Calcedônia, parecem ter sido os principais líderes. As sessões regulares, no entanto, começaram somente com a chegada do imperador. O imperador abriu a sessão na condição de presidente de honra e, depois, assistiu às sessões posteriores, mas a direção das discussões teológicas ficou com as autoridades eclesiásticas.
Nem Eusébio de Cesarea, Sócrates, Sozomeno, Rufino nem Gelásio de Cícico proporcionam detalhes das discussões teológicas. Rufino nos diz tão somente que se celebraram sessões diárias, as opiniões de Ário eram escutadas e discutidas com seriedade, apesar que a maioria se declarava energicamente contra suas doutrinas.
No início os arianos e os ortodoxos mostraram-se incondescendentes entre si. Os arianos confiaram a representação de seus interesses a Eusébio de Cesareia, cujo nível e a eloquência fez uma boa impressão perante o imperador. A sua leitura da confissão dos arianos provocou uma tempestade de raiva entre os oponentes.
No seu interesse, assim como para sua própria causa, Eusébio, depois de ter cessado de representar os arianos, apareceu como um mediador. Apresentou o símbolo (credo) batismal de Cesareia que acabou por se tornar a base do Credo niceno.
A votação final, quanto ao reconhecimento da divindade de Cristo, foi um total de 300 votos a favor contra dois desfavoráveis. A doutrina de Ario foi anatematizada e os dois bispos que votaram contra e mantiveram sua posição contrariando a posição do concílio foram exilados pelo imperador.

A profissão de Fé e os cânones do Concílio de Niceia
O Concílio de Niceia estabeleceu vinte cânones, os quais darão sequência ao Credo. Um breve resumo de seu conteúdo:
Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceitos aqueles que se castram.
Cânon II - Referente a não promoção imediata ao presbitério daqueles que provieram do paganismo.
Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua casa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima de suspeita.
Cânon IV - Relativo a escolha dos Bispos.
Cânon V - Relativo a excomunhão.
Cânon VI – Relativo aos patriarcas e sua jurisdição.
Cânon VII - O Bispo de Jerusalém seja honorificado, preservando-se intactos os direitos da Metrópole.
Cânon VIII - Refere-se aos novacianos.
Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime.
Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não consciência de sua culpa os que o ordenaram.
Cânon XI – Penitência que deve ser imposta aos apóstatas na perseguição de Licínio.
Cânon XII - Penitência que deve ser feita àqueles que apoiaram Licínio na sua guerra contra os cristãos.
Cânon XIII - Indulgência que deve ser dada aos moribundos.
Cânon XIV – Penitência que deve ser imposta aos catecúmenos que caíram em apostasia.
Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão de cidade para cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a igreja para a qual foram ordenados.
Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria igreja não devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos à sua própria diocese. A ordenação deve ser cancelada se algum bispo ordenar alguém que pertence a outra igreja, sem consentimento do bispo dessa igreja.
Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura deve ser excluído e deposto.
Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas atribuições. Não devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la antes deles, nem sentar-se entre os presbíteros. Pois que tudo isso é contrário ao cânon e à correta ordem.
Cânon XIX – As regras a se seguir a respeito dos partidários de Paulo de Samósata que desejam retornar a Igreja.
Cânon XX - Nos dias do Senhor (refere-se aos domingos) e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados.
Nas atas do Concílio de Niceia, assinadas por todos os bispos participantes, com exceção dos dois seguidores de Ario, constou o texto da seguinte profissão de Fé:

Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. Mas quantos àqueles que dizem: 'existiu quando não era' e 'antes que nascesse não era' e 'foi feito do nada', ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus é uma hipóstase ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e mudança, a estes a Igreja anatematiza  
  — Credo de Niceia,

Eusébio de Cesareia- o pai da história da Igreja

Eusébio de Cesareia nasceu em a. 265  em Cesareia Marítima, vindo a falecer no dia 30 de maio de 339, foi bispo de Cesareia e é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do Cristianismo primitivo. O seu nome está ligado a uma crença curiosa sobre uma suposta correspondência entre o rei de Edessa, Abgaro e Jesus Cristo. Eusébio teria encontrado as cartas e, inclusive, as copiado para a sua História Eclesiástica.


Vida
A data e o local exato do seu nascimento são incertos e pouco se sabe da sua juventude. Conheceu o presbítero Doroteu de Tiro em Antioquia e, provavelmente recebeu dele instrução exegética. Em 296, estando na Palestina, viu Constantino I, que visitava essa província com Diocleciano. Estava em Cesareia quando Agápio era, aí, bispo. Tornou-se amigo de Pânfilo de Cesareia, com quem teria estudado a Bíblia, com a ajuda da Hexapla de Orígenes e de comentários compilados por Pânfilo, na tentativa de escrever uma versão crítica do Antigo Testamento.

Em 307, Pânfilo foi preso, mas Eusébio continuou o projeto que com ele tinha começado. O resultado foi uma apologia de Orígenes, terminada por Eusébio depois da morte de Pânfilo, que foi enviada aos mártires na minas de Phaeno, no Egito. Parece que, depois, se retirou para Tiro e, mais tarde para o Egito, onde sofreu, pela primeira vez, perseguição. A acusação de que obteve a sua liberdade sacrificando aos deuses pagãos parece ser infundada.

Voltamos a ouvir falar de Eusébio como bispo de Cesareia Marítima. Sucedeu a Agápio, não se sabe bem quando mas, de qualquer forma, terá sido pouco depois de 313. Pouco se sabe dos primeiros tempos do seu bispado. No entanto, com o início da controvérsia ariana, toma, subitamente um lugar de destaque. Ário pediu-lhe proteção. Por uma carta que Eusébio escreveu a Alexandre, é evidente que não negou refúgio ao presbítero exilado. Quando o Primeiro Concílio de Niceia se reuniu, em 325, teve algum protagonismo. Nem era um líder nato, nem sequer um pensador profundo, mas como homem bastante instruído e autor famoso, caído nas graças do imperador, acabou por salientar-se entre os mais de 300 membros que reuniram no concílio. Tomando uma posição moderada na controvérsia, apresentou o símbolo (credo) batismal de Cesareia que acabou por se tornar a base do Credo niceno. No final do concílio, Eusébio subscreveu os seus decretos.

A controvérsia ariana continuou, não obstante a realização do concílio. Eusébio manteve-se envolvido na questão. Por exemplo, entrou em disputa com Eustátio de Antioquia, que se opunha à crescente aceitação das teorias de Orígenes e, em especial, por este ter praticado uma exegese alegórica das escrituras, o que interpretava como sendo a origem teológica do arianismo. Eusébio, admirador de Orígenes, foi repreendido por Eustátio que o acusou de se afastar da fé de Niceia. Eusébio retorquiu, acusando Eustátio de seguir ideias sabelianas. 

Eustátio foi acusado, condenado e deposto num sínodo, em Antioquia. Grande parte do povo de Antioquia rebelou-se contra esta decisão eclesiástica, enquanto os anti-eustatianos propunham Eusébio como novo bispo. Ele recusou a oferta.

Depois de Eustátio ter sido afastado, os eusebianos viraram-se contra Atanásio de Alexandria, um oponente muito mais perigoso. Em 334, Atanásio foi intimado a comparecer frente a um sínodo em Cesareia. Ele não compareceu. No ano seguinte, convocou-se outro sínodo em Tiro (Concílio de Tiro), presidido por Eusébio. Atanásio, prevendo o resultado, dirigiu-se a Constantinopla, onde apresentou a sua causa ao imperador. Constantino convocou os bispos para a sua corte, entre os quais, Eusébio. Atanásio foi condenado ao exílio no final de 335. Nesse mesmo sínodo, outro oponente era atacado com sucesso. Marcelo de Ancira há muito que lutava contra os eusebianos, protestando contra a reabilitação de Ário. Acusado de sabelianismo, foi deposto em 336. Constantino morreu no ano seguinte. Eusébio não sobreviveu mais tempo. Morreu (provavelmente em Cesareia), em 340, o mais tardar, sendo provável que tenha morrido a 30 de Maio de 339.

Obras
Da extensa atividade literária de Eusébio, uma relativamente grande parte foi preservada. Ainda que a posteridade tenha suspeitado dele como ariano, o seu método de escrita tornou-o indispensável; a utilização de certos textos cuidadosamente íntegros nas suas citações poupou muito trabalho de pesquisa aos leitores futuros. As suas obras, tornadas de referência, foram deste modo preservadas.

As obras literárias de Eusébio refletem o curso da sua vida. No início, dedicou-se à crítica dos textos bíblicos, sob a influência de Pânfilo de Cesareia e, provavelmente, de Doroteu, da escola de Antioquia. Com as perseguições de Diocleciano e de Galério, dirigiu o seu interesse para os mártires (tanto os da sua época, como os anteriores). Esse interesse levou-o a escrever, praticamente, uma história da Igreja e, mesmo, uma história universal, que, segundo o ponto de vista de Eusébio, seria apenas a base para a história eclesiástica. Nota-se, pois, que para Eusébio, a Igreja aparece como sendo o motor da História da Humanidade.

Com as controvérsias arianas, o interesse de Eusébio passou para as questões dogmáticas. A cristandade era finalmente reconhecida pelo Estado. Isso trouxe, não obstante, novos problemas. Apologias diferentes das anteriores tornavam-se necessárias. Por fim, Eusébio, no seu papel de teólogo da corte imperial, escreve panegíricos hiperbólicos dedicados ao imperador cristão. A todas estas atividades, há a acrescentar muitos outros textos de natureza diversa, em que ressalta a sua correspondência, para além de trabalhos exegéticos onde se incluem comentários e tratados sobre arqueologia bíblica que se estendem durante todo o período da sua vida literária, fazendo fé daquilo por que Eusébio viria a ser reconhecido por quase todos, independentemente da opinião teológica que professassem: a sua larga erudição.

Obras que versam a crítica bíblica
Pânfilo de Cesareia e Eusébio ocuparam-se, em conjunto, da leitura crítica das escrituras tal como eram apresentadas na versão da Bíblia conhecida como a "Septuaginta". Dedicaram-se ao estudo do Antigo Testamento, ainda que se debruçassem especialmente sobre o Novo Testamento. Efetivamente, parece que um dos manuscritos da Septuaginta, preparado por Orígenes, terá sido trabalhado e revisto pelos dois, a crer em Jerônimo.
Para facilitar a pesquisa dos textos evangélicos, Eusébio dividiu a versão das escrituras que tinha em seu poder em parágrafos que remetiam para uma tabela sinóptica, de forma a encontrar os pericópios que se referissem mutuamente.

A "Crônica"
Tábuas de concordância entre os Evangelhos, de acordo com Eusébio de Cesareia
As duas grandes obras históricas de Eusébio são a "Crônica" e a "História da Igreja". A primeira (em grego, "Pantodape historia", ou seja, "História Universal") é dividida em duas partes. A primeira, (em grego: "Chronographia", ou seja "Anuais" ou cronologia), pretende ser um compêndio de história universal, organizada segundo as diversas nações, recorrendo às fontes históricas que Eusébio pesquisou arduamente. A segunda parte, (em grego, "Chronikoi kanones", ou seja, "Cânones cronológicos") tenta estabelecer sincronismos do material histórico em colunas paralelas. É um dos exemplos mais antigos do que é frequente, hoje em dia, nas obras de referência, como enciclopédias, onde os frisos cronológicos se tornaram um instrumento de trabalho e consulta.

O trabalho original, no seu todo, está perdido. Pode, porém, ser reconstruído a partir de certos textos copiados, com incansável diligência, pelos cronologistas da escola Bizantina, especialmente Jorge Sincelo. As tábuas cronológicas da segunda parte foram totalmente preservadas numa tradução em latim feita por Jerônimo, e as duas partes existem ainda numa tradução em armênio, ainda que o seu valor seja discutível devido às alterações em relação ao original que poderão ter sido feitas pelos tradutores. A "Crônica", tal como a conhecemos, estende-se até ao ano de 325. Foi escrita antes da "História da Igreja".

A "História da Igreja"
Na sua "História da Igreja" ou "História Eclesiástica", Eusébio tentou, de acordo com as suas próprias palavras, apresentar a história da Igreja desde os apóstolos (história essa referida nos "Atos dos Apóstolos") até ao seu próprio tempo, tendo em conta os seguintes aspectos:
(1) a sucessão dos bispos nas Sés principais;
(2) a história dos Doutores da Igreja;
(3) a história das heresias;
(4) a história dos judeus;
(5) as relações com os pagãos;
(6) o martirológio.

Trabalhos históricos menores
Antes de compilar a sua história da Igreja, Eusébio trabalhou no martirológio do período primitivo e uma biografia de Pânfilo de Cesareia. O martirológio não foi conservado na íntegra, embora se tenha preservado quase na totalidade, em partes. Contém:
(1) uma epístola da congregação de Esmirna a respeito do martírio de Policarpo
(2) o martírio de Piónio;
(3) os martírios de Carpo, Papilo e Agatónica;
(4) o martirológio das congregações de Vienne e Lyon (atual França);
(5) o martírio de Apolônio de Roma.

Da vida de Pânfilo resta apenas um fragmento. Um trabalho sobre os mártires da palestina foi composto depois de 311. Um grande número de fragmentos encontram-se disseminados por vários catálogos de lendas, ainda por compilar. A vida de Constantino foi compilada após a morte do imperador e a eleição do seu filho como um dos augustos(co-imperadores romanos), em 337. É mais um panegírico, repleto de retórica, que uma biografia, mas é de grande valor histórico pelos documentos que incorpora.

Apologias e obras dogmáticas
Aos trabalhos de cariz apologético ou dogmático pertencem:
(1) a "Apologia de Orígenes", cujos primeiros cinco livros terão sido escritos por Pânfilo de Cesareia, na prisão, assistido por Eusébio, segundo as palavras de Fótio. Eusébio escreveu o sexto livro após a morte de Pânfilo. Existe atualmente uma tradução em latim do primeiro livro, feita por Rufino de Aquileia.
(2) um tratado contra Hierócles de Alexandria, (Governador romano e filósofo neoplatónico), no qual Eusébio rebateu a glorificação de Apolônio de Tiana feita por Hieróceles. O trabalho chamava-se "Discurso de Amor à Verdade" (em grego, Philalethes logos);
(3) e (4) duas importantes obras, relacionadas uma com a outra, conhecidas pelos nomes, em latim Praeparatio evangelica eDemonstratio evangelica, tentando a primeira provar a excelência do cristianismo sobre todas as religiões e filosofias pagãs. A Praeparatio consistia originalmente em vinte livros dos quais foram completamente preservados dez, além de um fragmento do décimo-quinto livro. Eusébio considerava-a como uma introdução à Cristandade para os pagãos. O trabalho foi terminado, provavelmente, antes de 311.
(5) noutro texto, com origem no período das perseguições, intitulado "Excertos Proféticos" (Eklogai prophetikai), discute em quatro livros os textos messiânicos das escrituras.
(6) o tratado "Da Manifestação Divina" (Peri theophaneias), escrito já posteriormente a estes, trata da encarnação do Logos Divino, sendo, em vários aspectos, idêntico à Demonstratio evangelica. . Restam apenas fragmentos.
(7) o polêmico tratado "Contra Marcelo", escrito cerca de 337;
(8) um suplemento ao trabalho anterior, intitulado "Da Teologia da Igreja", onde defende a doutrina nicena do Logos, contra o partido de Atanásio.
Um número vasto de escritos pertencendo a esta categoria estão, até a data, completamente perdidos.

Obras exegéticas e outras
Dos trabalhos exegéticos de Eusébio nada nos chegou na sua forma original. Os chamados "comentários" baseiam-se em manuscritos posteriores copiados dessa série (catenae) de escritos. Um trabalho mais completo, de natureza exegética, preservado apenas em fragmentos, intitula-se "Das Diferenças dos Evangelhos" e foi escrito com o intuito de harmonizar as contradições nos relatos dos diferentes evangelistas. Foi também com propósitos exegéticos que Eusébio escreveu os seus tratados de arqueologia bíblica:
(1) uma obra sobre os equivalentes, em grego, dos nomes de família hebreus.
(2) uma descrição da antiga Judeia, com uma relação da distribuição das dez tribos.
(3) uma planta de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Estes três tratados estão perdidos. Uma obra intitulada "Sobre os Nomes dos Lugares nas Escrituras Sagradas" sobreviveu até nós.
Há, ainda, que fazer menção de discursos e sermões, alguns deles preservados até hoje, como é exemplo um sermão para a consagração da Igreja de Tiro, e um discurso para o trigésimo aniversário do reinado de Constantino (336). Das cartas de Eusébio, restam apenas alguns fragmentos.

Comentários a respeito de Eusébio
A sua doutrina
Do ponto de vista dogmático, Eusébio apóia-se totalmente em Orígenes. Tal como este teólogo, partiu da ideia fundamental da soberania absoluta de Deus. Deus é a causa de todos os seres. Mas não é, meramente, uma causa; Nele, tudo o que é bom está incluído; Dele, toda a Vida é originada; e é a origem de toda a Virtude. É o Deus Supremo, ao qual, Cristo está sujeito como Deus segundo (secundário). Deus enviou Cristo para o Mundo para que este participasse das Graças incluídas na essência divina. Cristo é a única criatura realmente boa, possuindo a imagem de Deus, e sendo um raio de eterna luz; esta comparação com o raio de luz é, no entanto, de tal forma limitada que Eusébio necessita de, expressamente, enfatizar a auto-existência de Jesus.

Eusébio tenta, assim, enfatizar a diferença das Pessoas da Trindade, mantendo a subordinação de Jesus a Deus (Eusébio nunca aplica a Jesus o termo theos) porque, segundo ele, tudo o que é defendido para além disso é suspeito de politeísmo ou de Sabelianismo. Crê que Jesus é uma criatura de Deus cuja geração ocorreu antes do Tempo. Jesus é, pela sua atividade, o órgão de Deus, o criador da vida, o princípio de todas as revelações divinas, que, no seu caráter absoluto é entronado sobre toda a criação. Este Logos Divino assumiu um corpo humano sem que o seu Ser fosse em algo alterado. A relação do Espírito Santo com a Santíssima Trindade é explicada por Eusébio em termos similares à relação entre o Pai e o Filho. Nada do que é apresentado nesta doutrina é original de Eusébio, tudo remetendo para a teologia de Orígenes. A falta de originalidade de Eusébio revela-se no fato de nunca ter apresentado as suas próprias ideias de forma sistemática.

Apesar disso Eusébio contribuiu grandemente para a fé cristã com seus escritos.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Por quê nos sentimos desamparados por Deus?

Em Mt:27-46 Jesus estava findando sua obra salvífica,e cumprindo a vontade do Pai, porém se sentiu esquecido e desamparado.O nome Elias tem a mesma raiz do nome de Deus, por isso acharam que Jesus estava chamando por Elias ao pronunciar este Salmo 22-1 

A cruz sempre foi sinônimo de dor, humilhação, vergonha e renúncia, nela Jesus sentiu o descaso não só das pessoas que o cercavam, mas também do próprio Pai Celestial. A cruz hoje para nós representa também a causa de Cristo que nós como servos de Deus abraçamos, por isso na maioria das vezes que abraçamos esta causa sentimos o mesmo que sentiu Jesus, passamos a nos sentirmos sós, esquecidos e desamparados por Deus em alguns episódios que enfrentamos durante nossa caminhada.
Existem pelo menos dois motivos principais que nos levam a sentir o que Jesus sentiu na cruz como homem:
 
1º)Pecado: 

É claro que Jesus sempre foi o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e assim sendo Ele era e continua sendo imaculado, sem mancha e sem mácula,(Jo:1-29)(1ªPe:1-18,19)(Hb:9-13,14)e isso já havia sido profetizado por Isaías 700 anos antes de sua vinda(Is:53) porem o fato Dele tomar sobre si as nossas transgressões  fez com que Ele se sentisse distante de Deus por causa do pecado de toda  humanidade que Ele levou sobre si, Ele se fez maldito por nós(Gl:3-10,13) 
a)o pecado nos afasta de Deus: Pecar é errar o alvo,(Is:59-1,2),podemos ser culpados injustamente por coisas que não fizemos, e isso nos entristece e nos  faz crer que Deus não esta nos vendo, ou que ninguém se importa.

Além disso, na cruz nossos pecados são expostos claramente (Jo:3-19,21)por isso nos sentimos culpados, exemplo disso foi Adão após pecar se escondeu de Deus ao ouvir seu voz no jardim do Éden, a glória de Deus mostra os nos erros mais secretos, por isso Jesus teve que morrer na cruz,  para nos mostrar o quão pecadores e limitados somos ao ponto de não conseguirmos nossa salvação através dos nossos próprios méritos e boas obra, que diante de Deus não passam de trapos de imundícia(Is:64-6)mostrando assim a nossa necessidade de um Salvador (Ef:2-8). 
–consequências da culpa: a nossa mente é bombardeada constantemente, e passamos a achar que não tem mais jeito, ou que Deus não mais nos aceitará de volta, mas Ele nos chama (Lc:15, o filho pródigo)(Mt:11-28)(Is:55-1,2)(Jo:5-37)a culpa geralmente ataca naquilo que já passou, por isso a Bíblia nos manda que esqueçamos as coisa que para trás ficaram (Fl:3-20)(2ªCo:5-17) 
b)entristece o Espírito Santo: o Espírito de Deus em nós sente ciúmes da nossa maneira de viver(Ef:4-30) 
c)se extingui: o Espírito pode se afastar de nós definitivamente devido a permanência  no pecado (Sl:51-11)(1ªTs:5-19).Há perdão para todo pecado, menos para a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é o pecado deliberado, sabido que é pecado, praticado por uma pessoa que tem ou teve certa iluminação da verdade divina, e sabe o que esta fazendo, ex: os fariseus,(1ªJo:1-7,10)    (1ªJo:2-1,2)(Hb:4-14,16).
 
2º)Provação e tentação: 

Os problemas e tribulações que enfrentamos na vida nos levam a acreditar que Deus não está nos vendo, mas Ele não nos deixa a sós(Hb:13-5)(Mt:2818,20),Ele não dorme e nem tosqueneja (Sl:121-1).Precisamos tão somente ter bom ânimo, pois o Senhor está conosco (Jo:16-33),Ele sempre abre uma porta de escape (1ªCo:10-13)(Rm:8-28(Rm:8-31,38) Ele não esmiúça a cana quebrada, e nem apaga o pavio que fumega...Ele habita com o contrito e quebrantado de espírito (Is:57-15)(Sl:51-17),e dá graça aos humildes (Tg:4-8).
Por isso devemos nos fortalecer no Senhor  e na força do seu poder (Ef:6-10,12)(Fl:4-13) e sempre olhar para Ele que é o autor e consumador da nossa fé  (Hb:12-1,2).
                                     
                                                    Gilvan P.Guimarães

Agostinho de Hipona e sua história

Aurélio Agostinho que em latim é conhecido como Aurelius Augustinus, nasceu em Tagaste eno dia 3 de Novembro 354 e falecido em Hipona no dia 28 de Agosto de 430, era conhecido também como Santo Agostinho de Hipona, foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo e  um Padre latino e Doutor da Igreja Católica.

Agostinho é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo de Plotino, mas em 387 ele se tornou cristão, ele desenvolveu a sua própria abordagem sobre filosofia e teologia e uma variedade de métodos e perspectivas diferentes. Ele aprofundou o conceito de pecado original dos padres anteriores e, quando o Império Romano do Ocidente começou a se desintegrar, desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus, (em um livro de mesmo nome), distinta da cidade material do homem.Seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval. A Igreja se identificou com o conceito de "Cidade de Deus" de Agostinho, e também a comunidade que era devota de Deus.

Na Igreja Católica, e na Igreja Anglicana, é considerado um santo, e um importante Doutor da Igreja, e o patrono da ordem religiosa agostiniana. Muitos protestantes, especialmente os calvinistas mas também os luteranos (basta recordar que Martinho Lutero era inicialmente um sacerdote católico agostiniano), o consideram como um dos pais teólogos da Reforma Protestante ensinando a salvação e a graça divina.

Na Igreja Ortodoxa Oriental ele é louvado, e seu dia festivo é celebrado em 15 de junho, apesar de uma minoria ser da opinião que ele é um herege, principalmente por causa de suas mensagens sobre o que se tornou conhecido como a cláusula filioque. Entre os ortodoxos é chamado de "Agostinho Abençoado", ou "Santo Agostinho o Abençoado".

Biografia
Agostinho nasceu na cidade de Tagaste, província de Souk Ahras, na época uma província romana no norte da África, na atual Argélia, filho de pai pagão, chamado Patrício e mãe católica, Mônica. Foi educado no norte da África e resistiu aos ensinamentos de sua mãe para se tornar cristão.
Agostinho era de ascendência berbere. Com onze anos de idade, foi enviado para a escola em Madaura, uma pequena cidade da Numídia. Lá ele tornou-se familiarizado com a literatura latina, bem como práticas e crenças do paganismo. Em 369 e 370, ele permaneceu em casa.

Durante esse período ele leu o diálogo Hortensius de Cícero, que deixou uma impressão duradoura sobre ele e despertou-lhe o interesse pela filosofia e passou a ser um seguidor do maniqueísmo.

Com dezessete anos, graças à generosidade de um concidadão, chamado Romaniano, o pai de Agostinho pode enviá-lo para Cartago para continuar sua educação na retórica. Vivendo como um pagão intelectual, ele tomou uma concubina, numa tenra idade, ele desenvolveu uma relação estável com uma jovem em Cartago, com a qual teve um filho, Adeodato.

Durante os anos 373 e 374, Agostinho ensinou gramática em Tagaste. No ano seguinte, mudou-se para Cartago a fim de ocupar o cargo de professor da cadeira municipal de retórica, e permanecerá lá durante os próximos nove anos.

Desiludido pelo comportamento indisciplinado dos alunos em Cartago, em 383, mudou-se para estabelecer uma escola em Roma, onde ele acreditava que os melhores e mais brilhantes retóricos ensinaram. No entanto, Agostinho ficou desapontado com as escolas romanas, que ele encontrou apática. Quando chegou o momento para os seus alunos para pagar os seus honorários eles simplesmente fugiram.

Amigos maniqueístas apresentaram-lhe o prefeito da cidade de Roma, Symmachus, que tinha sido solicitado a fornecer um professor de retórica imperial para o tribunal provincial em Milão. Agostinho ganhou o emprego e ocupou o cargo no final de 384.

Cristão
Enquanto ele estava em Milão, Agostinho mudou de vida. Ainda em Cartago, começou a abandonar o maniqueísmo, em parte devido a um decepcionante encontro com um chefe expoente da teologia maniqueísta, Fausto.

Em Roma, ele relata ter completamente se afastado do maniqueísmo, e abraçou o movimento cético da Academia Neoplatónica. Sua mãe insistia para que ele se tornasse cristão e também seus próprios estudos sobre o neoplatonismo também foram levando-o neste sentido, e seu amigo Simplicianus instou-o dessa forma também. Mas foi a oratória do bispo de Milão,  Ambrósio, que teve mais influência sobre a conversão de Agostinho.

A mãe de Agostinho havia-o seguido para Milão e insistiu para que abandonasse a relação com a mulher com quem vivia ilegalmente e procurasse outra para casar, conforme as leis do mundo e a doutrina cristã. A amada foi mandada de volta para a África e Agostinho deveria esperar dois anos para contrair casamento legal, mas logo ligou-se a uma concubina.

No verão de 386, após ter lido um relato da vida de Antônio do Deserto, de Atanásio de Alexandria, que muito inspirou-lhe, Agostinho sofreu uma profunda crise pessoal. Decidiu se converter ao cristianismo católico, abandonar a sua carreira na retórica, encerrar sua posição no ensino em Milão, desistir de qualquer ideia de casamento, e dedicar-se inteiramente a servir a Deus e às práticas do sacerdócio.

A chave para esta transformação foi à voz de uma criança invisível, que ouviu enquanto estava em seu jardim em Milão, que cantava repetidamente, "Tolle, lege"; "tolle, lege" ("toma e lê"; "toma e ler"). Ele tomou o texto da epístola de Paulo aos romanos, e abriu ao acaso em 13:13-14, onde lê-se: "Não caminheis em glutonerias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites".

Ele narra em detalhes sua jornada espiritual em sua famosa Confissões (Confessions), que se tornou um clássico tanto da teologia cristã quanto da literatura mundial. Ambrósio batizou Agostinho, juntamente com seu filho, Adeodato, na vigília da Páscoa, em 387, em Milão, e logo depois, em 388 ele retornou à África. Em seu caminho de volta à África sua mãe morreu, e logo após também seu filho, deixando-o sozinho, sem família.

Bispo
Após o regresso ao Norte da África, vendeu seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres. A única coisa com que ele ficou foi a casa da família, que se converteu em uma fundação monástica para si e um grupo de amigos.

Em 391, ele foi ordenado sacerdote em Hipona (atual Annaba, na Argélia). Em 396, foi eleito bispo coadjutor de Hipona (auxiliar, com o direito de sucessão depois da morte do bispo corrente) e pouco depois bispo principal. Ele permaneceu nessa posição em Hipona até sua morte em 430

Ele deixou o seu mosteiro, mas continuou a levar uma vida monástica na residência episcopal. Ele deixou uma regra (latim, regulamentos) para seu mosteiro que o levou ser designado o "santo padroeiro do clero regular", isto é, sacerdotes que vivem por uma regra monástica.

Sua vida foi registrada pela primeira vez por seu amigo São Possídio, bispo de Calama, no seu Sancti Augustini vita. Descreveu-o como homem de poderoso intelecto e um enérgico orador, que em muitas oportunidades defendeu a fé católica contra todos seus inimigos.

Possídio também descreveu traços pessoais de Agostinho com detalhe, desenhando um retrato de um homem que comia com parcimónia, trabalhou incansavelmente, desprezando fofocas, rejeitando as tentações da carne, e que exerceu a prudência na gestão financeira conforme sua posição e autoridade de bispo.

Sua vida não é tranquila: missa diária, prega até duas vezes ao dia, dá catequese, administra bens temporais, resolve questões de justiça (cerca, muro, dívidas, brigas de família…), atende aos pobres e órfãos, etc.

Pouco antes da morte de Agostinho, a província da África Proconsular foi invadida pelos vândalos, uma tribo guerreira que estava aderindo ao arianismo. Pouco depois de Hipona ser cercada pelos bárbaros Agostinho adoeceu, Possídio relata que ele gastou seus últimos dias em oração e penitência, pedindo para que os salmos penitenciais de Davi fossem pendurados em sua parede para que ele pudesse ler. Pouco tempo após sua morte, os vândalos levantaram o cerco de Hipona, mas não muito tempo depois eles voltaram e queimaram a cidade. Eles destruíram tudo, mas a catedral de Agostinho e a biblioteca ficaram inalteradas.

Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um Doutor da Igreja. Na Igreja Católica, o seu dia é 28 de agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos impressores, teólogos e de um grande número de cidades e dioceses. Para os protestantes ou evangélicos, Agostinho é referencial na história eclesiástica, pois foi um valoroso líder da Igreja primitiva e deixou suas marcas como verdadeiro discípulo de Cristo.

Obras
Agostinho foi um autor prolífico em muitos gêneros: tratados filosóficos, teológicos, comentários de escritos da Bíblia, além de sermões e cartas.

Dele restaram algumas centenas de cartas e de sermões considerados autênticos. Além disso, deixou 113 obras escritas.
Agostinho é chamado de o Doutor da Graça, por sua compreensão sobre o tema.

Textos autobiográficos:

As suas Confissões (Confesiones), escritas entre os anos 397-398, são geralmente consideradas como a primeira autobiografia. Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até à sua então relação com Deus, e termina com um longo discurso sobre o livro do Gênesis, no qual ele demonstra como interpretar a Bíblia. A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores.

Mesmo sendo uma autobiografia, as Confissões não deixam de ter a marca filosófica de Agostinho. No Livro X, Agostinho escreve sobre a memória e suas atribuições. Já no Livro XI, Agostinho fala sobre a Criação, sobre o Tempo e da noção psicológica que se tem deste.

No fim da sua vida, Agostinho revisitou os seus trabalhos anteriores por ordem cronológica e sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retratações, que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e os seus pensamentos finais.

Filosóficos
Diálogos: Solilóquios (Soliloquiorum libri duo), Sobre o Mestre (De Magistro, trata da educação neste diálogo), Sobre o livre arbítrio (De Libero Arbitrio, trata sobre o mal e sobre as escolhas)
Contra os acadêmicos (Contra acadêmicos, em que combate o cepticismo).

O Livro das disciplinas (Disciplinarum libri é uma vasta enciclopédia com o fim de mostrar como se pode e se deve ascender a Deus a partir das coisas materiais. Não está acabada).

Apologéticos: Da verdadeira religião (De vera religione), etc.

A Cidade de Deus (iniciada c. de 413, terminada em 426, uma de suas obras capitais, nela nos oferece uma síntese de seu pensamento filosófico, teológico e político). O De civitate Dei libri XXII.

Dogmáticos:
Entre 399-422, escreveu A Trindade, uma das principais obras que apoia a crença na Santíssima Trindade de Deus. O De Trinitate libri XV.

Sobre a imortalidade da alma (De inmortalitate animae)

Sobre a potencialidade da alma (De quantitate animae)
Enquirídio (Enchiridion, ad Laurentium ou De fide, spe et caritate liber I, é um manual de teologia segundo o esquema das três virtudes teológicas. Contém uma explicação do Credo, da oração do Padre Nosso e dos preceitos morais da Igreja Católica).

Da fé e do credo livro I (De fide et símbolo liber I), etc.

Morais e pastorais:
Contra mendacium, Da catequese dos não instruídos livro I (De catechizandis rudibus liber I), Da continência livro I (De continentia liber I), Da paciência livro I (De patientia liber I), etc.


Monásticos:

Regula ad servos — a mais antiga das regras monásticas do Ocidente.

Exegéticos:
A Bíblia teve um papel decisivo para Agostinho. Pode-se destacar:

Da doutrina cristã livro IV (De doctrina christiana libri IV (é uma síntese dogmática que servirá de modelo para as Sententiae os pensadores da Idade Média), De Genesi ad litteram libri XII, Da harmonia dos evangelhistas livro IV (De consensu Evangelistarum libri IV (foram escritos em resposta aos que acusavam os evangelistas de contradizer-se e de haver atribuído falsamente a Cristo a divindade), etc.

Tratados:
Tratados sobre o evangelho de João (In Iohannis evangelium tractatus), As enarrações, ou exposições, dos Salmos (Enarrationes in Psalmos), etc.

Polémicos:
Muitas de suas obras tem caráter polêmico por causa dos conflitos que ele enfrentou. Isso levou São Posídio a classificá-las conforme os adversários combatidos: pagãos, astrólogos, judeus, maniqueus, priscilianistas, donatistas, pelagianos, arianos e apolinaristas.

De natura boni liber I, Psalmus contra partem Donati, De peccatorum meritis et remissione et de baptismo parvolorum ad Marcellium libri III (de 412, primeira teología bíblica da redencão, do pecado original e da necessidade do batismo), De gratia et libero arbitrio liber I (de 426, em que demonstra a necessidade da graça, da existência do livre arbitrío), De haeresibus, etc.

Pensamento
O problema do mal
Em seu livro Sobre o livre arbítrio (em latim: De libero arbítrio) Agostinho responde ao problema filosófico do mal de forma filosófica, demonstrando também filosoficamente que Deus não é o criador do mal. Pois, para ele, tornava-se inconcebível o fato de que um ser benevolente, pudesse ter criado o mal.

A concepção que Agostinho tem do mal, tem como base teoria platônica e a desenvolve. Assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que "sobraria" quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto o mal não seria oriundo da criação divina, mas seu antagonista por excelência, na condição de fruto do seu afastamento. No diálogo com seu amigo Evódio, Agostinho explica-lhe que a origem do mal está no livre-arbítrio concedido por Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim escolher o bem de forma voluntária, um ser consciente. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente de Deus em uma criação perfeita) e algo mau (a prevalência da vontades humanas imperfeitas e que afetam negativamente a criação da perfeição idealizada por Deus).

Entretanto, por ter em si mesmo a carga do pecado original de Adão e Eva, estaria constantemente tendenciado a escolher praticar uma ação que satisfizesse suas paixões (a ausência de Deus em sua vida). Deus, portanto, não é o autor do mal, mas é autor do livre-arbítrio, que concede aos homens a liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem. Esse argumento também implica que o ser humano tem direito de escolha sobre sua própria vida, não é apenas um ser programado. E se, segundo Agostinho, o bem é apreciado por Deus e a prática perfeita, todas as ações por ele inspiradas se tornam virtuosas e louváveis. Sendo que em um universo de seres não conscientes e que não têm livre-arbítrio, as práticas do bem e do mal seriam programadas e não poderiam ser classificadas como boas ou ruins.

Tempo e Criação
No Livro XI das Confissões (em latim: Confessiones) Agostinho põe-se a cargo de versar acerca da criação do mundo por meio do Verbo, que podemos entender como "palavra criadora". Com efeito, o filósofo compreende que o mundo só poderia ter duas origens :
1) do nada (em latim: ex-nihilo) e 
2) a partir de parte da sua substância. No entanto, a última suposição é falsa pois teria de se admitir um Deus mutável, algo não condizente com o pensamento do Doutor Africano.

A fim de responder a asserção: "Do que faria Deus antes de criar o mundo?" o filósofo tece sua crítica aos maniqueus e expõe seu pensamento a respeito do tempo e da criação. A evidente resposta de Agostinho à tal pergunta é a de que Deus não estaria a fazer nada, pois não havia tempo antes deste ter sido criado por Deus, ficando expresso que o tempo nada mais é do que uma criatura assim como o mundo e todas as coisas. Para o pensador, o tempo e o universo foram criado em conjunto, e Deus estaria fora deste contexto pois ele é eterno e a eternidade não entra no tempo.

Para o filósofo medieval, o tempo não tem existência per se e só pode ser apreendido por nossa alma por meio de uma atividade chamada de "distensão da alma" (em latim: distentio animi). A distensão da alma, grosso modo, nada mais é do que a compreensão dos três tempos; pretérito, presente e futuro na alma, de modo que seja possível lembrar do passado, viver o presente e prever o futuro. Agostinho afirma que a alma é quem pode medir o tempo e essa "medição" atesta a existência do tempo apenas em caráter psicológico.

Influência como pensador e teólogo
Na história do pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para o "batismo" do pensamento grego e a sua entrada na tradição cristã e, posteriormente, na tradição intelectual europeia. Também importantes foram os seus adiantados e influentes escritos sobre a vontade humana, um tópico central na ética, que se tornaram um foco para filósofos posteriores, como Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche, mas ainda encontrando eco na obra de Albert Camus e Hannah Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho).

É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original. Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno", o tempo só existe dentro do universo criado.

O pensamento de Agostinho foi também basilar na orientação da visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação da Bíblia deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do Gênesis, como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico", iriam influenciar fortemente a Igreja medieval, que teria uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.

Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do pensamento filosófico grego e do cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho foram João Calvino e Cornelius Otto Jansenius.