Martin Luther ou Martinho Lutero como é mais conhecido nasceu em Eisleben,10 de Novembro de 1483 —
Eisleben,18 de Fevereiro de 1546,foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante.Que ficando contra os conceitos da
Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade
da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o
vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar seus
escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou
em sua excomunhão pelo Papa e a condenação como um
fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Antigo.
Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus,
recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como
único redentor do pecador. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados
como um sacerdócio santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram
chamados luteranos.
Sua Tradução da Bíblia para o alemão, que
não o latim fez o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e
na cultura alemã. Promoveu um desenvolvimento de uma versão padrão da língua alemã, adicionando vários princípios à
arte de traduzir , e influenciou a tradução para o inglês da Bíblia do Rei James e seus hinos influenciaram o
desenvolvimento do ato de cantar em igrejas.Seu casamento com Catarina Von Bora estabeleceu um modelo para a prática do
casamento clerical, permitindo o matrimônio de padres protestantes.
Em seus últimos anos, Lutero tornou-se algo antissemita, chegando a escrever que as casas judaicas deveriam ser destruídas, e suas sinagogas queimadas, dinheiro confiscado e liberdade cerceada. Essas afirmações
fizeram de Lutero uma figura controversa entre muitos historiadores e
estudiosos. Há relatos de que momentos antes de sua morte Lutero estava
com um rosário em sua mão.
Primeiros anos
de vida
Martinho Lutero, era filho
de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld,
onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo,
Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário
público, melhorando, assim, as condições da família. Com esse objetivo,
enviou o já velho Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava
alaúde e onde recebeu o apelido de O Filósofo. Ainda na Universidade de
Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham. Esse sistema
dissolvia a harmonia multissecular entre a ciência e a fé que tanto
havia sido defendida pela escolástica de "São Jesus Cristo", pois essa filosofia baseava-se unicamente na
vontade de Deus. O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e
concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos. Seguindo os desejos maternos, inscreveu-se na escola de direito da
mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com
descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu
próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos
pais. Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!".Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus
livros, com exceção dos de Virgílio,
e entrou para a ordem dos Agostinianos de Frankfurt, a 17 de julho de 1505.
Vida
monástica e acadêmica
O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro,
empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao
próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à
meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às
peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao
Senhor, mais se dava conta de seus pecados,Johann von Staupits o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de
mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou,
portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero
foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg.
Lutero recebeu seu bacharelado em estudos bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos
depois, visitou Roma,
de onde regressou bastante decepcionado.Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em
Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da
Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi
nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e
origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo
utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
A controvérsia
acerca das indulgências
Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda
colaborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na
cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de
"Todos os Santos" - porque ali havia uma coleção de relíquias,
estabelecidas por Frederico III da Saxônia).
Foi durante esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos
problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se esses fossem fregueses, poderia acarretar.
A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal
imputado a alguém por conta dos seus pecados (aplicável apenas a alguém
que esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e
arrependido de todos os seus pecados veniais. Naquele tempo, o papa
havia concedido uma indulgência plenária para quem doasse qualquer
quantia para a reforma da Basílica de São Pedro. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios
episcopais do arcebispo Alberto de Moqúncia, mas sua campanha tomou a linha de uma venda, pois este frade,
posteriormente punido por isso, dizia que "Assim que uma moeda tilinta
no cofre, uma alma sai do Purgatório".
Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia
confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências,
deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu,
então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a
tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg,
com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam o
que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as
Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero
não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais
indulgências.
As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente
copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por
toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa.
Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a
distribuição simples e ampla do documento.
A resposta do
Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um "alemão
bêbado que escrevera as teses", e afirmando que "quando estiver
sóbrio mudará de opinião"o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este
denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de
uma de suas bulas.
Declarou ser Lutero um herege e escreveu uma refutação
acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a
Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio e uma apostasia.
Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à
controvérsia.
Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em Heidelberg,
onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a
graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o
debate se elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade
do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos
Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das
indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus", de
1343, do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição
a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa,
decidido a suprimir por completo os seus pontos de vista, ordenou que
ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos
políticos.
Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja,
negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse
realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava
parte da essência imutável da Igreja original.
Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico o Sábio,
o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica
para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl Von Miltitz em ALtenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a
decidir guardar silêncio, tal qual seus opositores. Também escreveu uma
humilde carta ao Papa e compôs um tratado demonstrando suas opiniões
sobre a Igreja Católica. A carta nunca chegou a ser enviada, pois não
continha nenhuma retratação; e no tratado que compôs mais tarde, negou
qualquer efeito das indulgências no Purgatório.
Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andres Carlstadt, para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de
junho-18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas
ao próprio Apóstolo Pedro, não
passando para seus sucessores.Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas
que esta se mantinha na I Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou
que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a
de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição. Alguns meses após a chegada dos
cardeais vindos de Roma, Martinho Lutero, monge da Igreja Católica,
doutor em Humanidades pela Universidade de Erfurt e professor da
Universidade de Wittenberg.
Aumenta a cisão
Lutero
durante os acontecimentos
Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero
circulavam amplamente, alcançando França,Inglaterra e Itália,
em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero
que, naquele momento, publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas "Operationes
in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).
As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a
desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades",
ampliou o significado da Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé
naqueles que a recebem. Além disso, ele ainda apoiava a realização de um
concílio a fim de restituir a comunhão.
O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu "Von dem
Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscano Augustin Von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto o seu "Sermon
von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos
como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente
boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.
Os tratados de
1520
A Nobreza
alemã
A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse
contato com os humanistas, especialmente Melanchthon,Reuchilin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez
também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenburg queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o
para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia,
em virtude da proscrição papal.
Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães,
Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de
1520), onde recomendava ao laicado, como um
sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas
abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se
ao Papa como o Anticristo.
As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões
doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:
- a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;
- a abolição das rendas do Papa;
- o reconhecimento do governo secular;
- a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
- a abolição dos Interditos e
abusos relacionados com a excomunhão;
- a abolição das peregrinações nocivas;
- a eliminação dos excessivos dias santos;
- a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da
suntuosidade; a reforma das universidades;
- a ab-rogação do celibato do clero;
- e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.
Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã,
revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de
terem que enviar riquezas a Roma.
O
cativeiro babilônico
Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu "Prelúdio no
Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no que diz respeito aos sacramentos.
- Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o
"cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a
presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas refutava o
ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.
- Batismo - ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé
salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação
inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem.
- Penitência - afirmou que sua essência
consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.
Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser
considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação
de Deus estava conexa a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o
batismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles
tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no batismo e o
pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação
(crisma),
o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção
fossem sacramentos.
Liberdade
de um Cristão
Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero
sobre a salvação e a vida cristã foi exposto em "A Liberdade de um
Cristão" (publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma
completa união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira
liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas
exteriores, e um perfeito amor ao próximo).
As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente
contraditórias, mas, em verdade, são complementares:
- "O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito";
- "O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito".
A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor".
A excomunhão
A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a
menos que, num prazo de setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua
doutrina, destacados pela Igreja.
Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um
Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:
- "Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".
Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma
proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de
setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de
dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o
decreto papa de Wittenberg, defendendo-se com seus "Warum des Papstes
und seiner Jünger Bücher verbrannt sind" e "Assertio omnium
articulorum". O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet
Romanum Pontificem".
A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa
com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I da Espanha (Carlos V de Habsburgo), que julgou
inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face à Dieta.
A Dieta de Worms
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado
a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um
salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.
A 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck,
assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de
cópias de seus escritos. Perguntou-lhe, então, se os livros eram seus e
se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo
para pensar em sua resposta, o que lhe foi concedido. Este, então,
isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos,
apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do
assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse
explicitamente à seguinte questão:
- "Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"
Lutero, então, respondeu:
- "Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros
argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios
já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si
mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a
minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem
quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é
seguro nem saudável."
De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes
palavras:
- "Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me
ajude!
Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para
determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada,
Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.
O Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho
Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.
Processo
Martinho Lutero e o Cardeal Caetano em 1557
Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na
publicação das suas 95 teses. Alegava-se, com o exame do processo, que
ele incorria em heresia. Nas aulas que ministrava na Universidade de
Wittenberg, espiões registravam seus comentários negativos sobre aexcomunhão.Depois disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia
notória. Lutero foi convidado a ir a Roma, onde teria que desmentir sua
doutrina.
Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu
uma audiência em território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento
(Gravamina) da
Nação Alemã.Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência
com o cardeal Caetano de Vio(Tomás Caetano), durante a reunião das
cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de
outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este pediu-lhe que revogasse
sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no
andamento do processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor
seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em
Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os príncipes eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a
Carlos.
O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico o sábio,
levou a que Roma pedisse que Karl von Miltiz intercedesse junto ao
príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como
imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser
alvo de preocupações e trabalhos.
Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e,
em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador Reichsacht.
Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em
audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o império.
Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado
imperador pelo papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido
na Dieta de Worms (conferência governativa) e, após ter
negado a revogação da sua doutrina, foi publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.
Exílio
no Castelo de Wartburg
O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms foi arranjado. Frederico o sábio ordenou que Lutero fosse capturado por um grupo de homens mascarados a
cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg em Eisenach,
onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou
as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg.
Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre
tradução da Bíblia para o alemão.
Com o início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um período
muito construtivo de sua carreira como reformista. Em seu "Deserto"
ou "Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a
tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em
setembro de 1522.
Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte
de seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre a
Confissão), em que nega a obrigatoriedade da confissão,
e admite como saudável a confissão privada voluntária. Também escreveu
contra o Arcebispo Albrecht,
a quem obrigou, com isso, a desistir de retomar a venda das
indulgências. Em seus ataques a Jacobus Latomus,
avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei,
assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o
objetivo da graça de Deus para o pecador que, por acreditar, é
justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora
reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou que o "princípio da
justificação" é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do
batismo - pela inerência do pecado em cada boa obra.
Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados,
respondendo-lhes ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e
respondendo-lhes aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu
perguntando como responder à acusação de que os reformistas renegavam a
peregrinação e outras formas tradicionais de piedade. Lutero
respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:
- "Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia
imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve
penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas
aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os
seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja
ainda mais forte, e que se alegre em Cristo que é o vencedor sobre o
pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui,
porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos,
sem embargo, disse Pedro (2ªPedro 3:13), estamos
buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça reinará".
Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam
renunciado ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos
atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre
os votos monásticos), aconselhava-os a ter mais cautela, aceitando,
no fundo, que os votos eram geralmente tomados "com a intenção da
salvação ou à busca de justificação". Com a aprovação de Lutero em
seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação da missa
privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os
agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e
terminaram com as missas. Sua violência e intolerância certamente
desagradaram Lutero que, em princípios de dezembro, passou alguns dias
entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue
Vermahnung … vor Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por
Martinho Lutero a todos os cristãos para que se resguardem da
insurreição e rebelião). Apesar disso, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam a abolição da missa privada e
da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das imagens nas
igrejas e a ab-rogação do celibato.
Regresso a
Wittenberg e os Sermões Invocavit
No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais
concepções radicais e temendo seus resultados, Lutero regressou em
segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir
de 9 de março (domingo de Invocavit) e
concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que
tornaram-se conhecidos como os "Sermões de Invocavit".
Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve
em consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem
persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um
tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o
desejaram. O cânon das missas, devido ao seu
caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter
sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas ainda
tinham de confessar-se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço
foi dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula
da missa e Comunhão), de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg,
com quatro hinos.
Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero
declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma.
Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie weit man ihr
Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve
ser obedecida).
Matrimônio
e família
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a
escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen.Entre
essas freiras encontrava-se Catarina Von Bora, filha de nobre família, com quem veio a
se casar, em 13 de junho de 1525. Desta união nasceram seis filhos:
Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis
filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de
hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.
O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros
padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento
definitivo com a Igreja Romana.
Anti-semitismo
Texto anti-semita de Martinho Lutero: Sobre os judeus e suas mentiras(1543)
Martinho Lutero foi anti-semita:"A Alemanha deve ficar livre de judeus, aos quais após
serem expulsos, devem ser despojados de todo dinheiro e jóias, prata e
ouro, e que fossem incendiadas suas sinagogas e escolas, suas casas derrubadas e destruídas (…), postos sob um
telheiro ou estábulo como os ciganos (…), na miséria e no cativeiro assim que
estes vermes venenosos se lamentassem de nós e se queixassem
incessantemente a Deus". – "Sobre os judeus e suas mentiras" de Martinho Lutero.
O historiador Robert Michael escreve que Lutero estava
preocupado com a questão judaica toda a sua vida, apesar de dedicar
apenas uma pequena parte de seu trabalho para ela.Seus principais trabalhos sobre os judeus são Von den Juden und
Ihren lügen ("Sobre os judeus e suas mentiras"), e Vom Schem
Hamphoras und vom Geschlecht Christi ("Em Nome da Santa linhagem de
Cristo") - reimpressas cinco vezes dentro de sua vida - ambas escritas
em 1543, três anos antes de sua morte. Nesses trabalhos Lutero afirmou que os judeus já não eram o povo
eleito, mas o "povo do diabo". A sinagoga era como "uma prostituta incorrigível e uma devassa
maléfica" e os judeus estavam "cheios das fezes do demônio,...
nas quais se rebolam como porcos" Lutero aconselhou as pessoas à incendiarem às sinagogas, destruindo os
livros judaicos, proibir os rabinos de
pregar, e apreender os bens e dinheiro dos Judeus e também expulsá-los
ou fazê-los trabalhar forçosamente. Lutero também parecia aconselhar seus assassinatos,escrevendo "É nossa a culpa em não matar eles."
A campanha contra os judeus de Lutero foi bem sucedida na Saxônia,Brandenburg e Silésia. Josel de Rosheim (1480-1554), que tentou ajudar os judeus na Saxónia,
escreveu em seu livro de memórias a situação de intolerância foi causada
por "(…) esse sacerdote cujo nome é Martinho Lutero - (…) seu corpo e
alma vinculada até no inferno!! - que escreveu e publicou muitos livros
heréticos no qual disse que quem ajudasse judeus seriam condenados à
perdição."Josel teria pedido a cidade de Estrasburgo para proibir a venda das
obras antijudaicas de Lutero; porém seu pedido foi-lhe negado quando um
pastor luterano de Hochfelden argumentou em um sermão que os seus
paroquianos deviam assassinar judeus. O anti-semitismo de Lutero
persistiu após a sua morte, ao longo de todo o ano 1580, motins
expulsaram judeus de vários estados luteranos alemães.
A opinião predominante entre os historiadores é que a sua retórica antijudaica contribuiu
significativamente para o desenvolvimento do anti-semitismo na
Alemanha, e na década de 1930 e 1940 auxiliou na fundamentação do ideal do nazismo de ataques a judeus. O próprio Adolf Hitler em sua autobiografia Mein Kampf considerou Lutero uma das três maiores figuras da
Alemanha, juntamente com Frederico o Grande,e Richard Wagner.Em 5 de outubro de 1933, o Pastor Wilhelm Rehm de Reutlingen declarou publicamente que "Hitler não teria sido possível, sem
Martinho Lutero".Julius Streicher, o editor do jornal Nazista Der Stürmer, argumentou durante sua defesa no julgamento de Nuremberg "que nunca havia dito nada sobre os judeus que Martinho
Lutero não tivesse dito 400 anos antes".Em novembro de 1933, uma manifestação protestante que reuniu um recorde
de 20.000 pessoas, aprovou três resoluções:
- Adolf Hitler é a conclusão da Reforma;
- Judeus Batizados devem ser retirados da Igreja;
- O Antigo Testamento deve ser excluído da Sagrada Escritura.
Diversos historiadores (entre os quais se destacam William L.Shirer e Michael H.Hart) sugerem que a influência de Lutero tenha auxiliado a aceitação do nazismo na Alemanha pelos protestantes no século XX. Shirer fez a seguinte observação em Ascensão e queda do Terceiro Reich:
"É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos
primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos:
sua história e a influência de Martinho Lutero (para evitar qualquer
confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande
fundador do protestantismo não foi só anti-semita apaixonado como feroz
defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a
Alemanha livre de judeus (…) – conselho que foi literalmente seguido
quatro séculos mais tarde por Hitler,Göring e Himmler.Por outro lado, especialmente Shirer recebeu críticas por essa sua
observação, sendo acusado de não conhecer suficientemente a história alemã e por ter interpretado
incorretamente certos acontecimentos ou mesclado suas opiniões pessoais
em seu livro.Também os cristãos luteranos afirmam que a Igreja Luterana tem esse
nome em homenagem ao seu mais famoso líder, porém não acata todos os
escritos teológicos de Lutero, principalmente os escritos que atacam os
judeus. Desde os anos 1980, alguns órgãos da Igreja Luterana formalmente
denunciaram e dissociaram-se dos escritos de Lutero sobre os judeus. Em
novembro de 1998, no 60º aniversário de Kristallnacht, a Igreja Luterana da Baviera emitiu uma afirmação: "é imperativo para a Igreja Luterana, que sabe
que é endividada ao trabalho e a tradição de Martinho Lutero, de levar a
sério também as suas declarações anti-judaicas, reconhece a sua função
teológica, e reflete nas suas conseqüências. Temos que nos distanciar de
cada [expressão de] antissemitismo na teologia Luterana."
A guerra dos
camponeses
A guerra dos camponeses(1524-1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de
Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham
existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as
guerras hussitas do século XV,e muitas outras até o século XVIII.Mas muitos camponeses julgaram que os ataques
verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os
reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia
social. Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isso não seria
surpreendente.
Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas Münzer, comandou massas
camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem
diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos"
era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam.
Lutero, desde cedo, argumentou com a nobreza e os próprios camponeses
sobre uma possível revolta e também sobre Müntzer, classificando-o como
um dos "profetas do assassínio" e colocando-o como um dos
mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a "Terrível História e
Juízo de Deus sobre Thomas Münzer", inaugurando essa
linha de pensamento.
Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a "Carta aos
Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso", mostrando a
tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em
reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve
pouca repercussão sobre esse escrito.
Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen,
oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a "Carta Aberta aos
Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen",
com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse
escrito não teve repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a
pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.
O principal escrito dos camponeses eram os "Doze Artigos",
onde suas reivindicações eram expostas. Neles havia artigos de fundo
teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados
por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração
nos impostos, etc.) impostos a eles pelos nobres. Os artigos eram
fundamentados com passagens bíblicas e dizia-se que se alguém pudesse
provar pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles
as abandonariam. Entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal
coisa estava o nome de Martinho Lutero.
De fato, Lutero escreveu sobre os "Doze artigos" em seu livro "Exortação
à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia",
de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem
injustiças contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e
desrespeito à autoridade.
Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela
região da Turíngia, Lutero pôde testemunhar as revoltas
camponesas, o que o motivou a escrever o "Adendo: Contra as Hordas
Salteadoras e Assassinas dos Camponeses", onde disse: "Contras as
hordas de camponeses (…), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou
abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e
demoníaco que um rebelde".Tratava-se de um apêndice de "Exortação à Paz …", mas que,
rapidamente, tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a
revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam
atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito
causou grande revolta da opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero
encorajava os príncipes a castigarem os camponeses até mesmo com a
morte.
Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de pentecostes,
em 1525, que se tornou o livro "Posicionamento do Dr. Martinho
Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos",
onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.
Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou
sobre a questão no seu "Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho
Contra os Camponeses", onde lamenta e exorta contra a crueldade que
estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição
anterior.
Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram,
Lutero redigiu "Acerca da Questão, Se Também Militares Ocupam uma
Função Bem-Aventurada", em 1526, com o propósito de esclarecer
questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função
como militar.
A discordância com João
Calvino
No movimento reformista,também chamado de Reforma,Lutero não concordou com o"estilo" de
reforma de João Calvino.Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica,enquanto João Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada,
que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova
Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria
idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas
afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas
apenas a doutrina registrada na Bíblia,
e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A
doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e não
muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a
época.
Falecimento
O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não
haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte. O
historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu em sua obra
"Martim Lutero":
"Os dois médicos, que o tinham tratado nos últimos momentos, não
puderam chegar a um acordo sobre a causa de sua morte, opinando um por
um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar."A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de
audiência imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de
Worms, pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre
para matar Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já
que, pelo referido Edito do Imperador, Lutero foi banido do Império
como um fora-da-lei. Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a
Lutero durante viagem de regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico,
o Sábio), Príncipe-Eleitor da Saxônia, ordenou que Lutero fosse
capturado e levado para o Castelo de Wartburg, onde estaria a salvo.
Provavelmente, foi por causa desse risco de morte que Lutero passou a
correr que seu amigo disse que "tentaram matá-lo". Encontra-se
sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.
Obras importantes
Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para o alemão algo que não era permitido até então
sem especial autorização eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o
primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia várias traduções mais
antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores
porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch(dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada
em decorrência da sua difusão por meio da imprensa,desenvolvida por Gutenberg, em 1453.
Lutero introduziu a palavra alleyn que não aparece no texto grego original no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos. O que gerou controvérsia.
Lutero justificou a manutenção do advérbio como sendo uma necessidade
idiomática do alemão como por ser a intenção de Paulo.
Segue aqui as 95 teses de Lutero:"Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.Com um desejo ardente de trazer a verdade à luz, as seguintes teses serão defendidas em Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma. Ele, portanto, pede que todos os que não puderem estar presentes e disputar com ele verbalmente, façam-no por escrito.Amém".
1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. (Mt 4.17), o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4. Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.
15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.
18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa[1], pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?
30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.
34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.
36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina[2].
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.[3]
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.[4]
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.[5]
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.[6]
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.
49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.[7]
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.
64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.
68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.
71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.
75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII.
79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, eqüivale à cruz de Cristo.
80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.
81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?
85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?
88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.
91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!
93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz![8]
94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.
95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.
O latim,língua do extinto Império Romano,permanecia a língua franca européia, imediatamente conotada com o passado romano
unificado, sendo também a língua da Vulgata traduzida por São Jerônimo
no século V, tal como tinham sido transmitidos às províncias do Império.
Por mais longínquas que fossem, nos menos de cem anos que separam a
oficialização da religião cristã pelo Imperador Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo
Germânico O doacro,
em 476 d.C. (data avançada por Edward Gibbon e convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do Ocidente), toda
a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de forma
mais ou menos homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à
religião cristã pelo império romano se deu em 313 d.C.
No entanto, o domínio do latim era, no século XVI,no fim da idade Média (terminada oficialmente em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos) e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem ínfima de população
instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja. A
tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de
desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua
alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É
preciso adicionar que Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a
publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata).
Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia
para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua
acadêmica.
Foi também autor da polêmica obra "Sobre os judeus e suas mentiras",(Von den Juden und ihren Lügen). Pouco conhecida, mas muito apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a "Diatribe" de Erasmo de Roterdã intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em português: Da vontade cativa).Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando com a crença de João Calvino, que chamou à crença de Lutero "sono da alma".
Reabilitação de Lutero?
Segundo a Revista editada em conjunto pela Igreja Evangélica Metodista Portuguesa e a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, Portugal Evangélico, em sua edição nº 932 de 2008, o Papa Bento XVI, poderia vir a reabilitar Lutero. Segundo o texto, "Vozes autorizadas do Vaticano adiantavam que o Papa reabilitaria Martinho Lutero argumentando que nunca teria sido sua intenção dividir a Igreja mas sim lutar contra os abusos e práticas de corrupção da mesma". E complementa dizendo que "O Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, antecipava que estas declarações dariam nova coragem ao diálogo ecumênico e contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas em Julho do ano anterior denegrindo a fé, a ortodoxa e protestante, ao não considerar estes dois ramos do cristianismo como verdadeiras Igrejas".
Porém, nesse mesmo ano, o site Agência Ecclesia, agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, desmentiu essa notícia citando uma declaração do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi dada ao jornal britânico Financial Times.Segundo o religioso, essa afirmação “não tem nenhum fundamento” e que o termo “reabilitação” nunca seria o correto neste caso. Depois dessas notícias não houve mais informações até o momento sobre uma possível reabilitação de Lutero pela Igreja Católica.
Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação pela Fé
Em 31 de outubro de 1999, foi assinada uma Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação pela Fé, redigida e aprovada pela Federação Luterana Mundial e pela Igreja Católica Apostólica Romana. O preâmbulo do documento diz que a declaração "quer mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas signatárias e a Igreja católica romana estão agora em condições de articular uma compreensão comum de nossa justificação pela graça de Deus na fé em Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que os desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo de condenações doutrinais". A declaração pode ser resumida neste trecho: "Confessamos juntos que o pecador é justificado pela fé na ação salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo no batismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o ser humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele".